domingo, 23 de agosto de 2009

Maria Gabriela Llansol


 

 



 


«Eu olhava por olhar, quero dizer – intensamente.»«O que sulca o ar é o desconhecido, privado do poder de fazer mal.»«Estou atenta às mutações da luz _________ como se fossem pérolas. Abriu, desce, muda, nunca se oculta mudando de lugar, pois sigo a sua trajectória de planta a planta. Cada planta está aqui no seu lugar exacto, na sua flor exacta – e bebe água exactamente.»«______ esse mundo alinhado que está por detrás da beleza – perturba-me infinitamente...»«Uma mão escrevendo é como a árvore dourada que vimos ontem à beira da estrada...»«Decorrido o fluxo da noite – e já amanhece – sinto com a mão a madressilva que plantei junto ao muro exterior da casa, e que mil vezes há-de morrer sem que, de facto, morra, enquanto estas páginas forem vivas...»«O meu corpo conflui de lugares longínquos...»

 
Cadernos manuscritos de 1995 e 1998 (fragmentos)

 


 


 

"_____________________________ o irritante traço contínuo.

É apenas uma dobra e um baraço. O texto dobra, efeito de colagem. O texto suspende o sentido, à espera de dizer exacto. Há frases que só completei anos depois; há frases que, no limiar dos mundos, não devem ser escritas por inteiro; há frases cujo referente de sentido será sempre obscuro. Se eu pretendesse escrever um texto sempre limpo - tiraria o traço. Onde não soubesse, nada escreveria. Mas como iria saber que ali não soube, ou nem sequer me pertencia saber? O texto é limpo, e por passajar. Onde o traço é apagado, vê-se claramente o raspar da borracha. Deixar o traçado."



Llansol, Inquérito às Quatro Confidências, p. 75

 

 

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