Imaginar uma linha acima da cabeça, puxando-a para cima, ajudava-a a manter a coluna ereta. Assim Núbia sentia-se mais centrada, sem perder o chão.
Nada reinventava e isso não a incomodava: bastava àquele ser pragmático saber-se parte do ciclo da natureza. Mitos muito adelgaçados moravam em seu imaginário, o curso do trovão lhe parecia sempre natural e determinado.
Contudo, gostava de perscrutar as pessoas. Ignorava-lhes as máscaras e via através de seus olhos os abismos interiores, ainda que o tempo os matizasse e ocultasse. “Os olhos sempre dizem das almas”, filosofava. “Não preciso conhecer detalhes da face para saber de uma pessoa. Ignoro as linhas dos lábios – essas ocultam sentimentos. As feições enganam, sintetizava.”
Há pouco havia descoberto acerca da voz. “A linguagem possui a gente, mas não possui nossa voz”, dizia agora. “A voz deixa ver o secreto de nossa poesia interna, na tonalidade da fala. Assim como as vitórias-régias deixam ver o lago sem ondulação.”
Imagem: jackaalam