domingo, 25 de abril de 2010

podes não ser rebanho
























desapareceram as estrelas e pouco te faz crer que existiram.
ver já não te basta, a contemplação ruiu.
temperaturas amenas desistiriam deste tempo, se pudessem
desvincular-se do sol

a umidade atingiu a ficção, tudo ficou velho e bolorento

tens escárias, tua dor tem cheiro ruim
e ocultá-la não impede o odor que se alastra

eventos fatais são imprevisíveis e o poético não é sinal de profecia.
portanto, desiste das palavras que têm função:
estão contaminadas por uma destinação secreta que fracassou

exuma esse peso biográfico que te acompanha e transforma,
deixa para trás a publicidade fúnebre da criança que ainda te  ronda:
há mais que simulações de felicidade, a maldade é coisa da mente
e a mitificação da dor do artista é estratégia do poeta.


sonia regina


imagem: Evgeny Freeone
 

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