Vem a palavra à mão como um fio de água,
Antecipando a sede, sempre a sede, como se
A cidade toda fora um deserto em que os homens,
Por serem poucos, se tornassem substantivos
Como as pedras; A rosa sozinha vale pelo jardim,
A pedra erguida na planície vale pela montanha
E tu, quando vens aqui és mais do que as mulheres
Todas da cidade. A tua mão vem aos meus lábios
Como se a sede fosse uma bênção e não me deixasse
Nunca, a sombra da montanha é a porta por onde
Os anjos vão daqui ao terminar das coisas. A rosa
Vem na minha mão mas nem eu a vejo ainda,
Pois tudo é um caminho e uma aprendizagem,
E nem o sol se recolhe antes da quieta noite;
Tudo porque vem a palavra aos lábios, e dita
Muda as coisas, e as faz e recria, e tudo o que existe
É no movimento que se sublima, e ganha a sua elevada
Morte e a sua nobreza, e na quietude apodrece.
A palavra dita é o pensamento que canta, é Deus
A criar as coisas com o seu riso, quando amanhece
De pássaros a noite grávida, e tu dormes ainda
Com o teu cabelo espalhado sobre a cama.
Eu sou mais do que eu quando digo a palavra,
E já não tenho fome, e já não tenho medo,
E sei que a rosa está ainda que não a veja.
Gonçalo B. de Sousa
Lisboa, 14 de Janeiro de 2010
Respondendo....
vem tua palavra aos ouvidos como se fossem luzes
pequenos pontos, brilhantes, a me contar coisas
a me falar dos anjos sem traí-los
e de como podemos confiar no que nos vem à mão
ainda que não os vejamos
a me falar dos anjos sem traí-los
e de como podemos confiar no que nos vem à mão
ainda que não os vejamos
"Pois tudo é um caminho e uma aprendizagem"
Sonia Regina
17.1.10
Sonia Regina
17.1.10