domingo, 17 de janeiro de 2010

Vem a palavra à mão como um fio de água



 

























Vem a palavra à mão como um fio de água,

Antecipando a sede, sempre a sede, como se

A cidade toda fora um deserto em que os homens,

Por serem poucos, se tornassem substantivos

Como as pedras; A rosa sozinha vale pelo jardim,

A pedra erguida na planície vale pela montanha

E tu, quando vens aqui és mais do que as mulheres

Todas da cidade. A tua mão vem aos meus lábios

Como se a sede fosse uma bênção e não me deixasse

Nunca, a sombra da montanha é a porta por onde

Os anjos vão daqui ao terminar das coisas. A rosa

Vem na minha mão mas nem eu a vejo ainda,

Pois tudo é um caminho e uma aprendizagem,

E nem o sol se recolhe antes da quieta noite;

Tudo porque vem a palavra aos lábios, e dita

Muda as coisas, e as faz e recria, e tudo o que existe

É no movimento que se sublima, e ganha a sua elevada

Morte e a sua nobreza, e na quietude apodrece.

A palavra dita é o pensamento que canta, é Deus

A criar as coisas com o seu riso, quando amanhece

De pássaros a noite grávida, e tu dormes ainda

Com o teu cabelo espalhado sobre a cama.

Eu sou mais do que eu quando digo a palavra,

E já não tenho fome, e já não tenho medo,

E sei que a rosa está ainda que não a veja.




Gonçalo B. de Sousa

Lisboa, 14 de Janeiro de 2010   






Respondendo....




vem tua palavra aos ouvidos como se fossem luzes
 
pequenos pontos, brilhantes, a me contar coisas
a me falar dos anjos sem traí-los
e de como podemos confiar no que nos vem à mão
ainda que não os vejamos
 
"Pois tudo é um caminho e uma aprendizagem"

 

Sonia Regina
 17.1.10







 

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