o pouso da libélula
sonia regina
não há uma maneira de olhar as folhas em dia nublado.
o sol não as rompe ou anima. ilumina-as
e o verde resplandecente não lhe é resposta
o que pode pretender minha escrita senão mencionar
o recorte verde no cinza?
a luz atravessa as nuvens e se realiza.
as folhas mexem-se com a brisa esquiva,
a claridade balança
há um vigor silencioso na inércia do rio
e a ausência de som não é desprovida de sentido
a aridez da escrita se desordena
com o pouso da libélula
e expulsa a banalidade
corto as idéias e espreito os versos, surpreendida
na maneira de olhar as folhas em dia nublado.
[23.10.09]
imagem: River Silence, by Valentyn Odnovyun